A polêmica das sacolinhas
Os primeiros dias após o fim da distribuição das embalagens plásticas nos mercados são marcados por dúvidas, filas e confusão
Claudia Jordão | 08/02/2012
A pedagoga Sueli: compras menores por causa da dificuldade com o novo sistema
Cida Souza
Um acordo entre o governo do estado, a prefeitura municipal e a Associação Paulista de Supermercados (Apas) baniu, desde o dia 25, a distribuição gratuita de sacolas plásticas em 2.600 lojas com o objetivo de reduzir o descarte de 6,6 bilhões de embalagens por ano (1,8 bilhão delas só na capital). A iniciativa tem por trás uma louvável preocupação com o meio ambiente. Além de ser derivado do petróleo, o produto demoraria até 400 anos para se decompor depois de jogado no lixo, de acordo com alguns estudos. Como o tal acordo não tem valor de lei, a adesão é voluntária. Na cidade, 95% dos supermercados já embarcaram na campanha, cujo slogan é a frase “Vamos tirar o planeta do sufoco”. A maior parte da população também se mostra simpática à ideia. Segundo pesquisa divulgada na semana passada pelo instituto Datafolha, 57% dos paulistanos apoiam a mudança.
Esse clima favorável entre a opinião pública, porém, não se refletiu nos humores de quem precisou passar pelos caixas na semana passada. Apesar da farta divulgação, muitos acabaram pegos de surpresa. Mesmo as pessoas que se preveniram para esta nova fase confessam ainda estar confusas sobre como substituir as sacolinhas. “Está difícil”, dizia a pedagoga Sueli Castanho Nastri, enquanto pagava a conta na loja do Pão de Açúcar da Vila Clementino, na Zona Sul. Sua dificuldade era encontrar a melhor opção para levar as compras. Já tentou usar caixas de papelão, que, embora sejam distribuídas sem custo, nem sempre estão disponíveis. Também experimentou uma sacola retornável de tecido, cuja alça se rompeu com o peso. “Estou acostumada a levar mercadorias para duas semanas, mas hoje só vou adquirir comida para o dia, porque não sei mais como transportar grandes quantidades”, contou. O presidente da Apas, João Gallassi, no entanto, aposta que as dificuldades serão passageiras. “É preciso um tempo de adaptação para que tudo se ajeite”, acredita.
Para substituir as antigas embalagens, as empresas oferecem agora sacolas biodegradáveis. Elas são produzidas a partir de amido de milho e levam de seis meses a dois anos para sumir do planeta. Ou seja, essa versão seria uma evolução em termos ambientais. O inconveniente do negócio é que os mercados estão cobrando pelo produto (0,19 real, em média). “Não acho justo onerar o consumidor e lucrar com algo que antes era oferecido gratuitamente”, afirma a publicitária Joan na Sottomaior. Segundo a Apas, o valor cobrado é o preço de custo da embalagem verde. Empresários do setor dizem ainda que a venda será provisória. “Numa segunda fase do programa, essas sacolas também vão sair de circulação. Elas estão sendo oferecidas agora apenas para não deixar as pessoas na mão”, diz Felipe Zacari Antunes, gerente de sustentabilidade do Walmart Brasil.
Outra queixa comum dos consumidores é terem de se programar para fazer compras, carregando para o ponto de venda suas próprias embalagens, caso não queiram pagar pelas sacolas biodegradáveis. “Saí de casa para resolver várias coisas e decidi passar na venda”, conta o corretor Lucas Nascimento. “Precisei levar tudo na mão.” Até mesmo os iniciados sofrem. A agente de turismo Tatiana Ribeiro tem uma coleção de ecobags, caixas dobráveis e de papelão, e sabe muito bem onde acomodar da melhor forma cada item adquirido. “O problema é que levo uns vinte minutos para guardar tudo, e as pessoas no caixa olham feio”, diz. A demora dos clientes em acondicionar as mercadorias antes de levá-las para casa — especialmente em carrinhos, que exigem cuidados para que os alimentos frágeis não sejam esmagados — também vem contribuindo para o aumento das filas.
Grandes redes como Pão de Açúcar, Walmart e Carrefour, além de outros mercados menores, criaram gôndolas recheadas de opções para os órfãos das sacolinhas. Cinco dias antes do fim da distribuição, o Pão de Açúcar, que vende catorze tipos de ecobag, reduziu o preço de seus sacos de ráfia (um tipo de plástico mais resistente) de 2,99 reais para 1,99 real. A rede Dia assinou o termo de compromisso com a Apas de banir a distribuição, mas só o fez em cerca de cinquenta endereços na capital. Em outros 100, incluindo os da Vila Madalena e da Vila Mariana, as velhas sacolinhas à base de petróleo ainda são fornecidas — o que tem atraído muitos fregueses. “Vou continuar vindo aqui, porque acho mais negócio”, afirma a estudante Luiza Gomes. Por meio de sua assessoria, o Dia informou que o material em questão é sobra de estoque e sumirá gradualmente de suas lojas.
SOCORRO NO CAIXA
As alternativas disponíveis para empacotar e carregar as mercadorias
SACOLA REUTILIZÁVEL
De diversos materiais, como algodão ou plástico resistente, funciona tanto para compras menores quanto para maiores. Há diversos modelos disponíveis nas principais redes.
Preço: de 0,49 a 13,90 reais
CAIXA DOBRÁVEL
É a opção mais prática para acomodar os produtos no porta-malas. É ideal para o transporte de objetos pesados, como garrafas, latas e vidros.
Preço: 35 reais (em média)
CARRINHO DE FEIRA
Clássico, é a melhor pedida para quem mora perto do mercado. Sua desvantagem está na distância entre as grades (itens pequenos escorregam para fora). A dica é combiná-lo com uma sacola retornável para artigos menores e leves.
Preço: 60 reais (em média)
CARRINHO DE PANO
Numa versão moderna, é feito de lona e protege os alimentos. Mas, é preciso ter cuidado ao usá-lo. Como não há grade para separar as compras frágeis, os materiais mais pesados devem ser colocados na base.
Preço: 45 reais (em média)
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É uma boa ideia acabar com as sacolas plásticas?
Especialistas comentam a medida, que terá início com acordo a ser assinado segunda (9) entre o governo de São Paulo e a associação de supermercados
Catarina Cicarelli | 11/08/2011
Sacola retornável: opção para não gastar 19 centavos com sacolinhas biodegradáveis
Germano Luders
Uma São Paulo com mais lixões, dos quais saem baratas e ratos em proporções bem acima das que a população se acostumou a ver. Esse cenário de filme de terror está entre os pintados por opositores de uma medida que, à primeira vista, soa bastante simpática: a extinção das sacolas plásticas distribuídas em supermercados paulistanos. OK, mas que tipo de matemática é capaz de transformar uma iniciativa de defesa do meio ambiente num problema de saúde pública?
Vamos ao primeiro elemento da equação. Está prevista para segunda (9) a assinatura de um acordo entre o governo do estado e a Associação Paulista de Supermercados (Apas) para que as bolsas plásticas deem lugar a uma versão biodegradável, feita de amido de milho — as primeiras demoram 300 anos para se decompor, enquanto as ecocorretas duram apenas 120 dias. Embora não tenha caráter de lei, a regra conta com apoio de pesos-pesados do setor, como o Grupo Pão de Açúcar, o Carrefour e o Walmart. Ninguém em sã consciência há de questionar a importância que a medida tem para o meio ambiente, principalmente diante do fato de que, no Brasil, são usadas por ano 135 milhões de sacolas.
Só que a conta terá de ser paga pelo consumidor. E é aí que começa a se desenhar a ideia descrita no começo deste texto. Os clientes poderão, naturalmente, levar ao mercado suas próprias bolsas retornáveis (a turma da moda já se empolga com a ideia de usar sacolas antiguinhas de feira, por exemplo). Quem não o fizer, no entanto, precisará pagar 19 centavos por unidade da versão de amido de milho. “As classes altas provavelmente não darão bola para esse custo extra, mas e as pessoas de menor poder aquisitivo?”, afirma Miguel Baiense, opositor da medida que, não por acaso, é presidente do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos, a Plastivida. Além disso, quem antes reaproveitava o plástico para jogar lixo fora, precisará comprar sacos para a mesma finalidade. “O recomendável seriam os também biodegradáveis ou os reciclados”, diz Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade do Grupo Carrefour.
Custo embutido
Cada saco de lixo desses custa 50 centavos — as grandes redes de supermercados pagam pelas de plástico 2 centavos a unidade. O médico veterinário e higienista ambiental Angelo Boggio, que ganhou o apelido de Doutor Ratão por sua especialidade em eliminar roedores e outras pragas, acredita que sem as sacolinhas parte da população começará a despejar detritos em lugares impróprios, como terrenos baldios ou mesmo tonéis — era assim antes de se tornar comum o uso de sacolas plásticas, na década de 80. “Nesses locais, poderá mesmo haver proliferação de ratos e baratas”, avalia. “E, consequentemente, as doenças trazidas por eles.”
Segundo o presidente da Apas, João Galassi, não é bem assim. “As pessoas hoje já pagam pelas sacolas, mas o valor está embutido nas mercadorias”, defende. “É possível que os preços dos produtos diminuam.” Pode soar como papo de comerciante, e até certo ponto é mesmo. Porém, alguns estabelecimentos já oferecem descontos a quem abre mão das “vilãs” feitas de plástico. O Walmart, por exemplo, dá crédito de 3 centavos a cada cinco produtos que o cliente leve em sua própria sacola. O Pão de Açúcar desconta 10 centavos, caso seja usado um saco retornável ou uma caixa de papelão para o transporte das compras.
Questão de educação
Para Gil Anderi da Silva, professor de Engenharia Química da USP e pesquisador de Gestão Ambiental, antes de riscar do mapa as sacolas plásticas seria necessário educar a população para seu uso. “O problema é o desperdício decorrente do fato de as sacolas serem gratuitas”, diz. Um dos caminhos apontados por ele seria apostar em aterros controlados em que as mesmas pudessem ser despejadas.
Uma pesquisa feita pelo Walmart em parceria com o Ministério do Meio Ambiente em outubro do ano passado constatou que, no estado de São Paulo, 33% dos entrevistados apoiam a iniciativa de não utilizar mais sacolas plásticas. No município de Jundiaí (SP), desde agosto do ano passado foi implantado um projeto-piloto da Apas. Houve 75% de aprovação dos consumidores, e a distribuição de sacolas diminuiu em 95%. Até o momento, sem registros de efeitos apocalípticos como o descrito no início da reportagem.
Fonte: Revista Veja
MINHAS REFLEXÕES:
De fato, a medida é boa, a proposta é interessante como medida preventiva à proteção do Meio Ambiente, portanto, me surge uma pergunta: quem vai pagar esta conta??
É sabido que toda medida importante tem os prós e contras, claro, mas quando se trata de mexer no bolso, certamente, deveria onerar aos que têm mais condições financeiras, logo, os donos de supermercados e não os consumidores!
Discordo da cobrança do valor de R$ 0,19 por sacolinhas. Imaginem uma compra grande/mensal... quanto ficaria esta conta?
Não vejo como boa, a composição de acordo que onere, mais, o consumidor! Entendo que a prevenção é para todos, mas os empresários do setor quem deveria custear esta transição, já que se pensa em trabalhar condutas de conscientização...
O povo deve ser educado, ensinado a proteger o meio ambiente, com certeza, mas há de se pensar em todas as medidas necessárias para que se alcance este objetivo!
Por que não foi feito um planejamento a ser implantado no período "vacacio legis"? (período da adaptação para que a lei entre em vigor).
Quando o legislador pensa e faz um norma, deve analisar os impactos advindos em decorrência dela... pode/deve, inclusive, estabelecer, no texto da norma, as ações a serem praticadas de tempo em tempo para que esta norma tenha eficácia no mundo socio-juridico. O período de adaptação da sociedade à norma deve ser muito bem pensado para que, quando entrar em vigor, não se perca tempo fazendo debates e tentando responder questões que já poderiam estar solucionadas!
Não entendo por que o Legislativo (ao aprovar a lei) e nem o Executivo (ao sancionar a lei) conseguiram fechar estas importantes questões, no respectivo período!? É possível que surjam novas questões, mas estas, em debate, eram óbvias!
Assim, entendo que a norma é importante, mas que os empresários do setor devem custear as sacolas ecológicas, até que a sociedade aprenda e se adeque à nova realidade. Esta idéia de que o consumidor paga de qualquer jeito (nos valores dos produtos) está difícil de engolir - se realmente fosse assim, por que já não fizeram a substituição sem onerar, diretamente, o consumidor, já que a sacola ecologica seria por um período de adaptação? O empresário paga as sacolas e trabalha o processo de conscientização, nas lojas, via imprensa,... ensinando o consumidor a aproveitar, melhor, cada sacola, bem como a trazer a sua sacola reutilizável!
Ainda, há de se pensar em solução para os sacos de lixo. As sacolinhas, posteriormente, são utilizadas, pelo consumidor, para colocar lixos. E agora, todos os sacos de lixos seriam, então, também, ecologicamente corretos? Se sim, quanto custaria? Se não, será que o problema, objeto desta polêmica, seria solucionado? Compartilho da reflexão do higienista ambiental Angelo Boggio, sobre o fato dos consumidores passarem a "depositar detritos em lugares impróprios"!
Vemos que, ainda, há muito por se pensar para depois vermos esta medida como solução!
Enfim, afirmo mais uma vez, que esta medida é importante, desde que, melhor, pensada! Ressalto que, enquanto consumidora, estou disposta a fazer a minha parte para o melhor do nosso Ambiente, desde que a conta, no período de transição, seja paga por quem tem mais condições financeiras, ou seja, o empresário do ramo.
Aqui em casa, já levamos a nossa sacola retornável, quando fazemos pequenas compras. Ainda não fiz a compra mensal para saber como vou transportar os produtos, mas imagino que se eu não encontrar caixas ou tiver que pagar R$ 0,19 sacolinhas, ficarei bastante stressada!
E você, o que acha desta medida? Deixe seu comentário! Sua opinião é muito importante! "Todo poder emana do povo"! É de você para você, cidadão (ã).