No dia em que São Paulo completa 456 anos de existência, quero contar um pouco de como cheguei por aqui:
Paulista, de Catanduva, nasci em 1970, filha de Otavio de Almeida Ramos e Terezinha Evangelista Ramos, sou a caçula de uma família de seis irmãos. Quis Deus levar três (que pouco conheci) ficando eu, a Cá (Clarice) e o Diou (Deolindo – ele não vai gostar de eu contar o seu real nome rs...) Meu pai era daqueles que nominava seus filhos em homenagem aos familiares. Deolindo era o nome do meu avô paterno, Clarice da minha tia paterna e Teresinha (com a diferença do z para o s) o nome da minha mãe. Tudo tem um porque, não é?! (rs..)
Meu pai, nascido em 1915, sonhou em casar e constituir uma família mas, só aos 45 anos, encontrou minha mãe que aos 25 se apaixonou por aquele homem maduro, charmoso, olhos azuis ...(rs); Minha mãe, de admirável silhueta, olhos amarelados e muito charme, com simplicidade, despedaçou o coração daquele homem experiente em busca de uma amor para sempre! Dessa união, surge uma linda família, simples, que passou muita dificuldade financeira, que trabalhou na roça, colhendo algodão, café, etc; nosso transporte era aquele conhecido caminhão, coberto por uma lona; nosso almoço era levado naquelas marmitas com isopor para conservá-lo quente. Morávamos em um sitio onde meu pai era administrador e caseiro, mas era preciso trabalhar na roça para garantir o alimento.
Meu pai tinha o 4º ano primário e minha mãe é analfabeta, mas a falta de estudo não significou falta de caráter, pelo contrário, fomos ensinados a respeitar e amar ao próximo como a nós mesmos – meu pai era cristão e verdadeiro discípulo de Cristo. Nosso livro de cabeceira era a Bíblia; nossas reuniões em família, fosse para fazer refeições ou outra atividade, sempre era precedida de oração em agradecimento à Deus por aquele momento – meu pai tinha um coração muito grato, por isso Deus lhe abençoou tanto!! Assim, nossa família era feliz, comprometida com a coisa certa, não éramos perfeitos, claro, mas éramos direcionados a procurar agir mais próximo do correto, com o conceito de que se não pudéssemos ajudar, não deveríamos atrapalhar...
Mas voltando à nossa Cidade, meu pai por aqui passou, casou-se e foi morar no interior, em várias cidades, e para cá voltou por volta do ano de 1979. Esta foi a época mais difícil porque aqui não pudemos trabalhar na roça e o emprego era muito difícil – meu pai já estava aposentado, com idade avançada o que dificultava, ainda mais. Por duvidar sobre o verdadeiro valor da sua aposentadoria, meu pai foi orientado a entrar com “pedido de revisão” e, em razão deste pedido, teve o seu benefício suspenso até a respectiva análise, ficando sem receber seu benefício por, aproximadamente, 03 (três) anos, período de maior dificuldade financeira que a nossa família passou – chegamos a pedir comida para os vizinhos. Minha irmã foi para o Rio de Janeiro e meu irmão para Santos. Eu fazia “bico” como doméstica e como balconista de uma banca de diversos, na feira de quarta, mas não era o suficiente – pagávamos aluguel, precisávamos comprar alimentos, material escolar, etc.... foi muito difícil mesmo, passamos por grandes dificuldades mas, hoje, entendemos que foi muito importante esta experiência!
Vendo nossa situação, aos 12 anos, perguntei ao meu pai por que estávamos passando tanta necessidade e ele me explicou que havia pedido a revisão de aposentadoria “mas estava demorando muito porque não tínhamos dinheiro para pagar um bom advogado”. Aí eu lhe disse: “Pai, quando eu crescer serei advogada e não precisaremos passar por nada disso!”; seus olhos lagrimejaram e ele disse: “este era o sonho do papai, eu acredito nisto filha, tenho certeza que pode acontecer, apesar de hoje não ser a nossa realidade”. Deste dia para frente este era o meu alvo... Um dia, aos 15 anos, eu estava em uma igreja, em um Congresso de Jovens, quando um senhor muito simpático (Carvalho – grande amigo! Sds) me perguntou se eu gostaria de trabalhar para o então Vereador Gilberto Nascimento, que tinha sido o preletor naquele evento. Num primeiro momento eu o informei que já estava trabalhando em um laboratório de prótese e que queria ser protética, mas ele me pediu para conversar com o meu pai que, de pronto, me orientou a deixar a idéia de cursar protese e aproveitar aquela oportunidade. Resumindo, em 25 de abril de 1986 iniciei meus trabalhos na Câmara Municipal de São Paulo, no cargo de auxiliar de serviços legislativos o que correspondia ao cargo de office girl/recepcionista. Naquela Casa Legislativa passei por vários cargos, até a Chefia de Gabinete. Lá cresci, casei, estudei - conclui a graduação em Direito; cursei pós graduação em Direito Constitucional e Administrativo; pós em Políticas Públicas e Gestão Governamental; e, conclui o Mestrado em Ciências Políticas. Infelizmente, meu pai faleceu quando eu, ainda, cursava o ginásio, mas aquelas lágrimas que, certamente, ele derramaria, foram lembradas e demonstradas em muitas outras que derramei, a cada conquista! Minha irmã, também, fez sua graduação em Direito proporcionando, ainda que in memorian, a realização dupla do sonho do meu pai.
Estou compartilhando tudo isso, no dia do aniversário da Cidade de São Paulo, para mostrar que, de alguma forma, faço parte da sua história e, certamente, esta Cidade faz parte da minha.
Quero, um dia, poder somar na feitura de importantes normas para a nossa cidade, nas discussões que envolvam o exercício da cidadania, nos debates e condutas de proteção ao meio ambiente, na defesa à família, à qualidade de vida, à liberdade religiosa, à proteção das nossas crianças, idosos, deficientes físicos, ou seja, pensar e implantar políticas publicas voltadas ao atendimento das necessidades do povo – real detentor do poder – e, assim, ajudar a construir um pouco mais desta já tão grande metrópole, porém tão carente de grandes ações! ...
Sei que São Paulo é a cidade da cultura, da comida, do lazer, do trabalho; da garoa, das tempestades, das enchentes; da política, da politicagem; da luta, do descaso; da emoção; São Paulo do mundo, do imigrante; da coragem, da covardia; do novo, do sempre; do brasileiro, da beleza, da diversidade; da festa!
Sei, também, que na história da Cidade de São Paulo, aparecerão muitos relatos como o meu; alguns tristes, outros felizes, surpreendentes ou simplesmente lembranças, não importa - o fato é que fazem parte da vida desta amada cidade!!
Hoje é o seu dia!!!
PARABÉNS SAMPA!!!!
Parabéns Doutora, pela sua determinação!!!
ResponderExcluirExemplo de vida e de luta,
Com carinho,
Marcelo Neres
Conheço a Teresinha, a quem chamo carinhosamente de "Terê", desde 2005, quando ela foi nomeada Chefe de Gabinete na Câmara Municipal de São Paulo. Desde então, passei a admirá-la pela coragem de expor suas opiniões e de enfrentar as mais complicadas situações, sem se esconder, como no popular, "botando a cara prá bater". Trata-se de uma pessoa de caráter honesto e de solidariedade para com o próximo. Sou testemunha de sua preocupação com os menos favorecidos. Terê pratica a verdadeira caridade ensinada por Cristo - digo isso por experiência própria. Ela é assim, se não pode ajudar na forma material, ela ora... e como tem força a sua oração! Sua história de vida fundamenta seu perfil: sempre preocupada com a família, boa filha, boa esposa, uma mãe exemplar e, para mim, mais do que uma amiga, uma verdadeira irmã. Deus te abençoe, Terê... sempre!
ResponderExcluirMIROCA
Sua historia de vida me emocionou! Que garra, determinação, convicção e força para lutar e vencer os obstaculos da vida, por um sonho.
ResponderExcluirQue DEUS continue abençoando muito a sua vida, com certeza a cidade de São Paulo entre tantos presentes que ganhou no seu aniversário, foi agraciada com uma joia rara chamada Teresinha! Agradeço a DEUS por conhecer você! Te admiro!
Marta Gomes